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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Sala de espera

Era como outra qualquer, uma sala com dois sofás desconfortáveis, um corredor nada convidativo à direita, um balcão que sustentava os braços da recepcionista não muito simpática e a porta de entrada que dava de frente para o balcão e ficava ao lado esquerdo para quem se sentava de frente para o corredor. Era a primeira vez que me encontrava ali depois da triste experiência com a famosa virose uns anos atrás. Naquele dia, meu motivo parecia ser o mesmo para estar esperando: febre, dores musculares e um pouco de dor de cabeça. Enquanto esperava para entrar com nenhum objetivo além de pegar a receita para comprar meus remédios e voltar correndo pra casa, parei para observar as pessoas que se encontravam na mesma situação que a minha, ali, naquela sala, já que as revistas não me chamavam a atenção e, quando tinham capa, datavam de Agosto de dois mil e dois. A mulher que sentava ao meu lado esquerdo parecia tão ansiosa que se ela virasse uma pipoca a qualquer momento, eu não ficaria surpresa. Conversava com o marido, eu acho, que estava sentado ao seu lado esquerdo. Conversavam sobre nomes diversos numa animação estonteante. Presumi que estaria grávida, ou suspeitava de que isso fosse verdade. Bom, pelo menos alguém estava ali ansioso para entrar, pena que essa não era a maioria. No outro sofá que ficava de lado para o corredor, estava sentada uma mulher que parecia tentar se encaixar na sociedade estando de acordo com a moda, mas ela só estava tentando mesmo. Já era uma senhora, devia ter uns cinquenta e poucos anos e vestia roupas até que bonitas, mas só se estivessem separadas. Pareciam ser roupas caras e, como disse anteriormente, não eram feias, mas ela não teve sorte quanto à escolha da combinação. Seu figurino, era composto por uma calça vermelha muito bem trabalhada com um bordado fino e discreto no bolso esquerdo, a blusa era básica e tinha um tom pastel suave. Se ela tivesse parado de se vestir no momento em que deu o laço na blusa, precisaria somente colocar uma sapatilha de cor clara e estaria perfeita para uma consulta à tarde na clínica, mas ela não se conteve. Não entendo até hoje como ela conseguiu sair de casa às quatro horas da tarde com um sapato de salto sete dourado e um blazer azul anil com aquela calça vermelha. Fiquei tão absorta na roupa daquela senhora que nem percebi quando uma mulher entrou na sala com uma menininha que devia ter meses de vida, talvez seis ou sete. Era uma fofa a menina e parecia muito incomodada e estressada com alguma coisa, pois ela chorava alto e emitia um som agudo. Deu pra entender a angústia da menina quando a mãe fez massagens em sua barriga: cólicas. Era uma menina linda, pele clara, bochechas rosadas, olhos pretos e cabelos também, tinha cabelos demais pra uma criança daquela idade, mas era linda, linda demais. De tanto que observava as pessoas por causa do tédio que aquela espera toda me causara, nem percebi quando o ponteiro do relógio que estava pendurado na parede atrás do balcão anunciou que já passava das dezessete horas. Era possível eu estar ali a mais de uma hora? Mas que absurdo de demora! Levantei-me e fui até a recepcionista que quase cochilara em sua cadeira confortável demais pra quem tem ficar bem esperta naquele ambiente calmíssimo. Perguntei a ela que horas o médico ia me atender, pois marquei minha consulta para quatro e meia da tarde. "Qual é o seu nome?", ela perguntou. "Luciana de Almeida", respondi calmamente. "Consta aqui que sua consulta foi marcada para o dia 22 de Outubro", me informou ela. Não entendi porque ela me dissera aquilo já que eu sabia quando era minha consulta, afinal, estava ali esperando, então, concordei com a informação "Sim, marquei para o dia 22 sim". Ela olhou pra mim com cara de quem está cheio de dúvidas na cabeça e finalmente falou "Ah sim, então é a senhora. Liguei ontem para a sua casa repetidas vezes e ninguém atendeu, infelizmente não tenho como te encaixar na agenda. O consultório está cheio hoje. Teremos que marcar outro horário, mas só na semana que vem". Como assim? Eu estava esperando ali desde meia hora antes da consulta, e porque ela me ligou ontem, eu tinha que confirmar a consulta mais uma vez? Não entendi e então perguntei, "Como assim terei que marcar outra consulta? Por que? O que aconteceu com o meu horário? Eu marquei com você desde semana passada!", comecei a ficar estressada. "Marcou para o dia 22! ", ela quase gritou comigo. "Eu sei, e é por isso que estou aqui! Por que você fica repetindo dia 22 toda hora? Eu não sou burra. Hoje é dia 22 e disso eu sei! Só não entendo porque perdi minha consulta se estava aqui na hora certa", naquela hora eu já tinha perdido a paciência e a minha cabeça gritava de dor quando ela finalmente respondeu, "A hora pode até estar certa, mas o dia não. Hoje, quarta-feira, é dia 23 de Outubro!".

Natália Ferreira

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